COMPAIXÃO E AMOR - PARTE II

Leia a parte I aqui.

A mulher com olhar firme observou o estado de Giovanna e com voz tranquila perguntou:

- Você precisa de alguma ajuda?

E com olhar desconfiado, um pouco desacostumada com o cuidado alheio, surpresa por ter sido notada ela respondeu:

- É eu fui assaltada agora a noite e fui agredida pelo ladrão também - Giovanna não entendeu como conseguira se abrir, mas sentia que aquela mulher faria o bem. Ela irradiava algo tão bom. Tinha a pele cor da noite, lábios muitíssimo grossos e exalava um gostoso cheirinho de Camomila. O seu nome era Daniela.

- Eu vou te ajudar, me dá a sua mão - Disse Daniela.

- Tudo bem - respondeu Giovanna, quem consentiu e deu a mão direita para ela que a segurou confortavelmente. Ambas caminhavam, Giovanna conseguia sentir a textura das box braids da moça as quais encostavam no seu ombro. Também vale ressaltar sobre Giovanna sempre sentir um peso sobre suas costas, mas neste momento, o peso parecia ter diminuído um pouco.

- Qual o seu nome?

- Giovanna.

- Vai ficar tudo bem, Giovanna - afirmava Daniela - ali na frente fica a minha casa, eu moro com a minha avó, pode ficar tranquila, somos apenas nós duas.

Elas entraram na pequena casa, a decoração era simples e delicada. Uma sala com paredes pintadas de branco acolhia uma sofá bege, uma janela com cortinas verde claro e um raque onde havia uma TV e também um enfeite: era uma pequena bicicleta com flores na cestinha.

- Onde ele te agrediu?

- Ele me deu um soco no estômago.

- Entendi, eu sinto muito. Pode sentar, vou pegar um remédio para dor - Daniela dizia enquanto deixava seu par de chinelos próximo à porta.

Giovanna sentou-se, observando o local a sua volta, tudo parecia organizado e muito limpo.

- Aqui está - Daniela apareceu com água e um dorflex.

Giovanna tomou e agradeceu.

- O que o ladrão levou?

- Meu celular e meu dinheiro. Fiquei apenas com minha carteira de identidade e o cartão de passe.

- OK, vamos ligar para a operadora e bloquear o seu aparelho.

Fizeram isso com facilidade.

Depois Daniela pegou o hambúrguer que havia comprado e partiu ao meio, colocando cada parte em um prato, também pegou suco de uva na geladeira. As duas comeram enquanto Giovanna questionava-se em pensamento "até quando ficarei aqui?", "porque ela é tão bondosa?", "eu já devo agradecer e ir embora?".

Em seguida elas escolheram um filme na Netflix. Assistiram "Amor e Basquete". Enquanto relaxava no sofá Giovanna ponderava "Nossa jamais poderia imaginar que algo bom viria a acontecer. Ela nem me conhece e está me tratando como uma irmã. É, eu poderia tentar ser mais positiva depois disso”.

Quando o filme terminou Daniela foi ao seu quarto e voltou com uma camisola, uma calcinha e uma toalha.

- Vai lá tomar um banho, você pode dormir aqui e amanhã eu te acompanho até em casa. – Ela disse sorrindo.

Ao amanhecer, Giovanna acordou com a claridade que avançava a janela. Foi ao banheiro e trocou-se. Foi para a sala, onde estava Daniela. Minutos depois a avó dela aparece. Vestia um quimono laranja e chinelos, tinha cabelos crespos brancos cuidadosamente penteados e estava segurando uma sacola da padaria.

- Vó Rute, essa é a Giovanna, minha mais nova amiga.

- Olá, prazer, é bom ter você aqui, menina, pode voltar quando quiser – exclamou Rute.

As três sentaram-se à mesa para tomar o café da manhã. Todas trocaram várias prosas e em certo momento a Vó disse:

- Meninas, vocês devem ter esperança apesar de tudo. As dificuldades são muitas, vocês precisam cuidar de seus pensamentos. Pensem naquilo que ajuda a prosseguir. Tentem ser positivas para manter o entusiasmo e com ele a esperança.

Giovanna ouviu atentamente e sentia-se grata por tantos cuidados. Sua alma estava sedenta por consolo e quão bom foi ter o encontrado através de Daniela e Vó Rute. O amor aqueceu seu peito e nela fluiu uma energia que a regenerava. Ela estava com ânimo para seguir em frente.

Era carnaval, era Brasil, eram mulheres pretas... mas existiu graça, existiu compaixão, existiu amor. Então foi possível perseverar.